Geral
XX Festival de Circo de Londrina
VIVA O CIRCO
O XX Festival de Circo de Londrina reuniu artistas do Brasil e do mundo para espetáculos e oficinas realizados por toda a cidade.
Evento mostra aos espectadores uma outra perspectiva sobre o circo.
Texto de João Gonçalves
(Estagiário de jornalismo da ALC)
O 20º Festival de Circo de Londrina foi realizado entre os dias 24 e 30 de março, reuniu artistas circenses de vários cantos do Brasil e do mundo para a realização de espetáculos e oficinas gratuitas por toda a cidade do norte paranaense. O evento, mais do que entreter, permitiu um intercâmbio cultural entre artistas e a exposição de uma outra perspectiva sobre o circo para a população. Estive presente em duas noites da programação e pude conversar com quatro artistas que participaram do ”Show de Variedades“. Em nossa conversa, pude perceber três substantivos que definem, de certa forma, o que o circo representa: liberdade, alegria e amor.
A noite em que as entrevistas aconteceram se deu em 27 de março - Dia do Circo, por “coincidência”. As luzes que saíam da Escola Londrinense de Circo (ELC) podiam ser vistas do ponto de ônibus em que desci, na Av. Saul Elkind, Zona Norte da cidade. Ao chegar, às 19h30 - 30 minutos antes do show começar - me sentei em uma das muitas cadeiras de plástico enfileiradas no pátio da escola. Observei os testes de som sendo feitos por um artista com o rosto pintado de branco: ele segurava o microfone e, com uma voz altiva e alegre, convidava o público a prestigiar o espetáculo da noite.
Chegado o momento de entrevistar os artistas, entrei em uma sala vibrante, onde eles se preparavam para o início do espetáculo. O espaço estava repleto de pessoas, cada uma com uma roupa, apetrecho ou maquiagem que as destacava das demais. Sentada em cima de um equipamento semelhante a uma cama elástica estava Letícia, a primeira pessoa com quem conversei. Ela é uma aerialista, ou seja, ela utiliza aparelhos aéreos em suas apresentações. Vale destacar que sua especialidade é a lira - que nada mais é do que um bambolê suspenso no ar, segurado por uma espécie de corda reforçada, onde a artista faz inúmeras acrobacias surpreendentes.
Letícia conta que sua história com o circo se deu desde a infância, afinal, seu pai é professor dessa modalidade na Unicamp, em São Paulo. Porém, durante dez anos, ela direcionou seu foco para a ginástica rítmica, dedicando-se aos treinos que aconteciam todos os dias por quatro horas seguidas. Quando seu corpo chegou ao limite, a aerialista voltou seus olhos ao circo, a sua maior paixão.
A artista o tem como um escape: quando está nervosa ou cansada, ela vai ao circo e se sente melhor. Para Letícia, esse ambiente também é um espaço de liberdade onde, em suas palavras: “você não precisa se encaixar em nada, porque quem se encaixa em você é o circo”. Contudo, ela acredita é um pouco fechado, onde você tem que “cavar até entrar”. Por esse motivo, a arealista acredita que festivais como o XXFCL abre portas para que as pessoas conheçam; façam parte e vejam que a arte circense é séria e muito importante.
Fernanda era outra artista que estava no salão. Sentada no chão e já vestida com seu traje preto e vermelho, ela parecia preparada e tranquila com a apresentação que se seguiria. Professora de circo no espaço cultural Zirkus, também em Londrina, ela me contou que começou a história com a arte quando tinha 15 anos. Na época havia um centro social que oferecia oficinas de circo e os responsáveis visitaram a escola onde ela estudava. Lá, fizeram um convite para os alunos conhecerem o centro. Fernanda se interessou pela proposta, foi até lá e ingressou na oficina.
Graças ao circo, a artista se encontrou profissionalmente: ela se formou em educação física e sabia que queria trabalhar com algo relacionado aos movimentos. Desde 2021 ela atua como professora e se apresenta junto à trupe do Zirkus. Na trajetória como educadora, Fernanda tem acompanhado o impacto do circo na vida de seus alunos. Segundo a professora: “essa arte permite que eles se desenvolvam física e cognitivamente, além de permitir que eles interajam entre si e desenvolvam laços de amizade.”
Antes de voltar ao pátio da ELC para o espetáculo, conversei com mais dois artistas: Juliana Rocha Zucolli e Gianluca Matos de Paula. Os dois são um casal de aerialistas, assim como Letícia. Suas histórias com o circo começaram de maneiras distintas: ela sempre amou a arte, mas não tinha aulas que a permitissem praticá-la em sua cidade. Por esse motivo, ela iniciou seus treinamentos no pole dance, ganhando força para as atividades que viria a desenvolver depois enquanto aerialista; ele, por outro lado, começou a trajetória no slackline, desenvolvendo suas habilidades nas praças de sua cidade pois, assim como Juliana, não encontrava aulas de circo no município onde morava. Posteriormente, os dois se formaram na Escola Nacional de Circo Luiz Omecha, no Rio de Janeiro.
Os dois se encontraram na arte. Gian, inclusive, disse uma frase que acredita definir muito bem sua relação com a profissão que exerce: “muita gente fala o quão difícil é ser artista, mas é muito mais difícil um artista não ser artista. Eu acho que um artista, ele nasce artista e ele só descobre depois”. Ao compará-la com a história de Juliana, podemos perceber que essa frase também se relaciona com a trajetória da aerialista. Ela é formada em Comunicação Organizacional e trabalhou por alguns anos em agências e escritórios onde não se sentia pertencente ao mundo corporativo. Ao fazer a transição dos computadores e impressoras para o picadeiro e os aparelhos aéreos, a artista passou a se sentir realizada ao conseguir levar mensagens verdadeiramente autênticas para o seu público.
Quanto a importância de festivais como o XXFCL, o casal afirma que o circo brasileiro tem características e personalidades próprias. Para eles, eventos como esses permitem que a arte circense do Brasil seja mostrada e admirada pelos próprios brasileiros e pelo mundo afora. Além disso, os dois afirmam que o circo não é bagunça, mas uma arte que exige muita responsabilidade, treino e organização para levar alegria ao público. Então, por meio desses festivais, essa outra perspectiva pode ser mostrada aos espectadores.
Após conversar com esse grupo de artistas, voltei ao espaço do espetáculo. Diferentemente de quando saí, quase todas as cadeiras estavam ocupadas. As fileiras se desfizeram graças ao anseio do público em ter a melhor visão do “Show de Variedades“. Alguns minutos se passaram até o início das apresentações quando uma explosão de cores se fez presente no palco montado pela produção do festival, junto as músicas extremamente festivas. O espetáculo contou com apresentações impactantes que tiraram o fôlego dos espectadores. Aerialistas, palhaços e outros artistas especializados em modalidades diferentes surpreenderam e emocionaram quem os assistia na mesma medida. Ao fim do show, o apresentador chamou o público ao palco para dançar em comemoração ao dia do circo junto aos artistas que se apresentaram. E ali, naquele momento, pude sentir que o circo está mais vivo do que nunca.
Atividade referente ao programa de Estágio de Jornalismo
com supervisão de
Marina Melo Mendes
Coordenadora de Comunicação
Jornalista MTB 0011172|PR
Fotografia:
Natália Castro @nataliacastrophoto